Vá, tens que sair, não faças essa cara

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Se me apresentassem um contrato vitalício assinava já.

O Fábio Coentrão é um miúdo tão puro, tão ingénuo, e gosta tanto do Benfica que nem sequer compreende que estas suas palavras vão impedir que na altura da sua venda se venha dizer "decidimos não cortar as pernas ao jogador", "o jogador recebeu uma proposta irrecusável", "era muito difícil ao jogador continuar no Benfica" e outras balelas do género.

O Coentrão sai porque o actual modelo de gestão do Benfica implica encaixar e gastar vários milhões no final de cada época. É um ciclo vicioso que não há meio de parar e há que aceitar (menos) e compreender (mais) esta realidade.

Mas a verdade é que custa imenso ver dois miúdos benfiquistas como David Luiz e Fábio Coentrão serem autenticamente postos a andar para fora do clube. É como uma família mandar um filho com 16 anos para as obras porque em casa já não há comida para todos. Percebe-se mas dói.

Espero que algum dia o Benfica venha a ser economicamente poderoso o suficiente para se poder parar com isto. Do ponto de vista do adepto, é emocionalmente desgastante assistir a este filme todas as épocas.

11 comentários:

Alexandre disse...

Concordo inteiramente com o post.

Embora seja também importante dizer que os nossos "miúdos" não estão a ir propriamente para as "obras". Ou melhor, e mantendo a analogia, estão a ir para as melhores "obras" do mundo.

Um aparte. Não tenho nada de especial contra o Paulo Machado (não faço ideia o que está a jogar em França e como evoluiu como jogador), mas pergunto: "se não fosse português estaria a ser observado pelo Benfica?". É que a ânsia de termos portugueses (que compreendo e julgo justificar o debate) pode levar a que se procure jogadores onde não há. Repito: não estou seguro que este seja o caso.

Saudações,
Alexandre

JNF disse...

O modelo de gestão que temos é fruto das gestões danosas do passado e da realidade competitiva em que nos encontramos. Daí surgirem estas situações. O Benfica teve um super-onze inicial no ano passado, mas mesmo assim os jogadores, felizes com a vida no clube, têm de sair porque precisamos de dinheiro para pagar as dívidas e porque estamos numa liga competitivamente fraca. Somos um clube demasiado grande para o nosso país.

O Paulo Machado é um jogador muito acima da média e até encaixa no perfil de jogador que precisamos.

FCdaFruta disse...

Qual era o problema se conseguissem que ele ficasse? Se o segurassem por mais 1 época por exemplo, já ninguém o ia querer? O clube ia a falência? Para o ano ele não ia valer o mesmo ou mais para o clube? Eu acho que se critica muito a gestão e que o pessoal já esqueceu o tempo do vale e azevedo... Se tivesse feito o mesmo a outro clube a esta hora se calhar estava numa situação pior que o Sporting se encontra hoje...

Alexandre disse...

Eu acredito na sinceridade do Fábio, mas uma coisa é dizeres isso no vazio outra é dizeres isso com os números de outras propostas à frente. Eu prefiro ver sair já o Fábio a ver repetido o filme do David Luíz. Não quero ver os adeptos serem injustos com o Fábio como o foram com o David e não quero ver o Fábio preso a decisões que tomou por paixão e que podem não representar da melhor forma os seus interesses.

Não estamos aqui a falar de se estar à procura de um Marselha ou de um Lyon para fazer uns milhões de euros, necessários para equilibrar as contas. Eu sei que é isso que certas correntes benfiquistas choram cada vez que se negoceia um jogador. É uma lenga lenga já cansativa. Isso fez-se realmente, há uns anos atrás. Era a política dos 10M por ano.

Estamos a falar dos clubes mais poderosos do Mundo. Estamos a falar de clubes com condições financeiras e projectos desportivos com outra ambição. Isto para não falar de enquadramentos competitivos muito mais atraentes. Para além do mais, o Fábio não está na bancada. Isto é a carreira dele. É muito fácil dizer ao outro para precindir de ir ganhar uns milhões. Claro que depois o Fábio olha para o Mantorras e pensa 10 vezes.

Eu acho possível que o Benfica venha a ter um projecto desportivo de uma dimensão superior. Mas, convenhamos, dificilmente com este modelo competitivo (de Ligas nacionais, que eu DEFENDO) dificilmente alguma vez poderemos competir ao mesmo nível com os 5/10 maiores clubes europeus. Mas podemos estar ali logo a seguir. E essa deve ser a nossa ambição.

Agora, concretamente, nenhum clube fora dos Big 5 conseguiu chegar a esse nível. E fora do Big 3 tens Bayern, Lyon e Marselha. Portanto, podemos concluir que todos os presidentes de clubes europeus fora do Big 3 (e diga-se que é cada vez mais Big 2) fizeram negócios ruinosos nos seus clubes que os tem impedido de rivalizarem com o Real Madrid, o Barcelona e o Manchester United. Enfim.

Saudações,
Alexandre

Alexandre disse...

Para não criar controvérsias geradas por mal entendidos, quero esclarecer que o meu post anterior não foi uma resposta a ninguém em particular.

O meu argumento é que este modelo de negócio é uma realidade que decorre mais de uma tentativa de criares fontes de receita alternativas para te aproximares financeiramente do top 20 europeu e menos da tentativa de correcção de gestões danosas. Poderias corrigir gestões danosas de formas mais simples, como o fizeste no passado. Baixando o orçamento do futebol para o mínimo indispensável e abdicares de competires com ambição na Europa. É um bocado o que o Sportém tem feito. Isto é discutível? Certamente! Existiram decisões péssimas? Ui, se existiram.

Agora temos que também ser justos. Uma coisa é dizermos: temos que nos habituar a ver jogadores sair. O nosso modelo de negócio prevê isso, portanto não há que ficar chocado com isso. Outra coisa é o Benfica andar à procura de compradores para os seus jogadores. Como o faz o Porto. O que aconteceu com os últimos 3 jogadores a sair é que houve uma enorme pressão do mercado. Houve vontade de vender? Certamente. Mas não foi só por causa dessa vontade que os jogadores sairam. Foi porque as propostas eram muito boas. E, se querem que vos diga, os clubes portugueses são muito bons a fazer isto. Melhores que quase todos os outros na Europa. E, mais, é um orgulho ver os nossos jogadores titulares em equipas de topo.

Agora digo e repito: há que saber gerir as saídas, não forçando. E, tão importante como isso, saber escolher jogadores para garantirem a estabilidade. Neste defeso farei a minha avaliação.

Saudações,
Alexandre

Alexandre disse...

Já que estou embalado, deixo só mais uma nota.

Parece-me absolutamente indispensável que esta lamentação colectiva com a saída de jogadores continue a existir. Cada vez que sair alguém espero que os benfiquistas se revoltem contra a sua saída.

Claro que isto parece uma contradição tremenda com o que disse antes. Mas nem tanto. É que para este modelo resultar parece-me essencial que não se crie uma cultura de conformismo face à saída de jogadores.

É o que acontece hoje no Porto. Quem é mesmo o capitão deles? Vejo os adeptos do Porto falar e sinto zero paixão pelos jogadores. São aqueles, poderiam ser outros. O presidente é que sabe.

Isto é mentalidade de entreposto. E esta mentalidade é fácil de construir. O sucesso desportivo associado aos milhões nas capas dos jornais são de uma eficácia tremenda.

Portanto, há que contestar. Nos blogues, na Benfica Tv, no Estádio da Luz, quando se apanha o Vieira a beber café. Por outro lado, há que manter vivos os Pedros Guerras deste mundo, que elogiam o quão fabulosos estes negócios são.


Penso que temos construir o futuro do clube nesta tensão.

Abraço,
Alexandre

PS1: Ah, se alguém tem dúvidas da importância deste enquadramento social à volta da Direcção, basta recordar o pacote de medidas anunciado depois do jogo de Guimarães. Só alguém muito desatento pensará que aquilo veio tudo da cabeça do Vieira.

PS2: Éter, acho que já começo a merecer uma distinção de comentador dedicado. ;)

Éter disse...

Alexandre, mas eu deixei bem claro que aceito e compreendo esta política de gestão. Mas como tu dizes no último comentário, vou sempre refilar quando vir um jogador de quem gosto sair do clube. Faz parte da minha maneira de sentir o Benfica e não consigo mudar isso. Sempre que sair um craque, por mais milhões que entrem, eu vou ficar triste e estrebuchar um bocadinho. Tipo um estrebuchar do moribundo, porque obviamente não dá em nada... lol

Quanto à distinção, vou ver o que se pode arranjar. Talvez uma sandes de courato...

Abraço

Alexandre disse...

Eheheheheh

Claro. Os meus comentários não foram uma resposta ao teu post. Isso fiz no primeiro! GFoi um bocado de rambling de quem ainda está no trabalho e apanhou um curto intervalo para lançar umas ideias sobre o Benfica.

Eu acho que refilar tem mais impacto do que se pensa. A verdade é que a malta tem refilado e mais vezes do que se reconhecesse tem havido eco na Direcção.

Mas isso são outras novelas.

JNF disse...

Mas Alexandre, eu até concordo com o que tu dizes. Nesse aspecto tens razão. Só acho que temos de vender mesmo não para nos aproximarmos mas por uma questão de falta de dinheiro. Exemplo prático: porquê o desespero de Vieira que fez aquela figura triste de andar a viajar pela Europa a tentar vender o jogador? Se fosse para nos aproximarmos dos grandes europeus, não haveria necessidade de andar a tentar vender à pressa até final de Janeiro. Se calhar havia (e havia sim) dívidas para pagar até Janeiro.

Também não concordo com o protestar pela venda de jogadores. Custa-me (e fico sempre preocupado) quando sai um bom jogador, mas daí a protestar, parece-me exagerado. É o "ciclo de vida" de um grande jogador em Portugal: fica cá uns aninhos e vai-se embora. Devemos protestar se for mal vendido, isso sim. Se Coentrão for despachado por menos de 25 milhões é um mau negócio. Se for vendido com cláusulas obscuras ou com moedas de troca, estaremos perante mais um caso em que Vieira não soube fazer frente aos grandes europeus. É isto.

Alexandre disse...

JNF,

Eu para te responder preciso de saber uma coisa. Conheces o Vieira? Conheces alguém da família dele? És o melhor amigo de alguém da administração da SAD? É que eu não sei se quando falas do Vieira estás a interpretar informações que são públicas ou se sabes mesmo alguma coisa.

Eu não digo que não seja necessário vender jogadores para equilibrar contas. Aliás, o DSO na entrevista que deu afirmou que o Benfica precisa de vender jogadores. Mas isso decorre desta opção de negócio. Como disse, não é a única. Poderíamos fazer uma aposta maior na formação e baixar os custos. Não me parece é que fosse uma boa opção.

O nosso negócio - como eu o vejo - parece-me que passa por aumentar simultaneamente custos e receitas, esperando retirar lucro no balanço final.

Face às receitas que temos (e, principalmente, que tivemos até ao início desta maratona de renegociações de patrocínios que começou nos últimos anos - Adidas, Sagres, vem ai Tv, etc.) também precisamos de vender jogadores. Os dados que tenho acesso fazem-me pensar que não estamos numa situação limite.

Pelo menos, ainda não vi criticas sérias às contas. Os relatórios são públicos e quando foram as eleições ouvi umas "bocas" à situação financeira no clube, mas nunca foram concretizadas. E temos 50 blogues de oposição ao Vieira (e ainda bem!) e ainda estou à espera que alguém faça uma leitura crítica aos relatórios a apontar situações graves.

Os sinais que recolho fazem-me pensar que não nadamos em dinheiro, mas que temos alguma folga financeira. Com os mesmos personagens (Viera e DSO) existiram anos em que só conseguíamos negociar jogadores quando a concorrência era inexistente. Chegamos a situações ridículas em que pagar uns 2M era o fim do negócio.

Quanto à questão da contestação nas vendas de jogadores, parece-me fundamental. Arrastarmo-nos num modelo tipo Porto, em que baseamos o nosso negócio apenas em vendas de jogadores e dinheiro da Champions parece-me que é pensar com menos ambição do que podemos. Mas, face à falta de massa crítica no debate futeboleiro português, é muito fácil ficarmos neste registo.

Portanto, espero que para o Vieira seja difícil vender jogadores importantes. E que a malta chore cada saída. É isso que impede razias e é isso que nos faz ser grandes. Para o adepto do Benfica não há razões para ir para outro clube. Claro que o adepto acaba por se conformar, principalmente se o substituo for craque. Mas, lá está, só há obrigação de ir buscar um craque para substituir um titular porque a pressão é imensa. Num clube com a mentalidade do Sportém, provavelmente o Carole era titular na próxima temporada.

Nota final: acho que os clubes portugueses (principalmente Benfica e Porto) vendem bem melhor que os clubes do resto da Europa. Mas isso são contas de outro rosário.

Bimbosfera disse...

Boas. Deixem-me dizer que já não lia um post que me fizesse sentir tão bem com o Benfica e o debate «futeboleiro» como com este, ou seja, nem mesmo os meus, ou pior, nem mesmo os do Futre! Por isso, parabéns a todos!

Já agora, é possível facultar os Relatórios ao pessoal? Aqui há uns anos consegui sacá-los do site do Glorioso, penso que 2005/06/07, por aí, mas nunca mais saquei nada. E era muito interessante levantar-se este tema para uma conversa pós-clássico, que faz falta, tanto aqui como no Eterno Benfica, o mesmo ser debatido por gente que conta e que interesa para o assunto. Claro que tem que haver o Sumol e a sandes de courato, como o Alexandre pede, mas é essencial que se discuta isto para depois ser seguido um rumo, dos sócios, se for para fazer oposição, ou apoio, a Vieira. Já vi muita gente que quer ter voto, e bem, na matéria dos direitos televisivos, mas, e depois disso? Aliás, nisso, o que é que podem «bitaitar»? O que se pode saber que não seja alma do negócio. Sou sincero, e sei que podem discordar, mas sinto uma grande segurança, ao falarmos da parte financeira, em DSO. Mais até que em Vieira, mas é, ao que parece, aquele a quem Vieira reza antes de se deitar a pensar nalgum tema que envolva muito capital, por isso, reafirmo que gostava de ver este tema debatido, até com a inclusão de mais dados, como os relatórios, links para os PDF, o que for, colocares o link para o post (ou colocarem, caso o queiram debater no Eterno Benfica também) e durante uns tempos ver-se se há mobilização da massa adepta a fazer disto. Quando digo adepta quero dizer todos, sócios, o que for. É aproveitar o embalo, digamos!

Grande abraço

Márcio Guerra, aliás, Bimbosfera

Bimbosfera.blogspot.com e agora também Blog do Manuel

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