Este saiu grande, desculpem lá

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Agora que, para o bem e para o mal, não vai entrar nem sair mais ninguém até Janeiro, aqui fica a minha análise ao plantel:

Baliza: apesar de nunca ter sido um entusiasta de Quim, que julgo ter várias limitações, parece-me que neste capítulo ficámos pior. Se eu já dizia que Quim era péssimo a sair da baliza a cruzamentos e bolas bombeadas, e me afligia em muitas das vezes que o via saltar, Roberto bate-o aos pontos mas, infelizmente, pela negativa. Júlio César pode vir a ser um grande guarda-redes (está lá tudo) mas ainda me parece um pouco verde. Moreira só conta para a ficha de inscrição da Champions que vamos ter que enviar à Uefa.

Defesa: mantiveram-se os quatro melhores defesas do campeonato e isso só pode ser considerado excelente. Sidnei é a principal alternativa aos centrais mas pelo que vi no jogo contra a Académica posso dizer que vou ficar apreensivo quando os titulares se aleijarem ou estiverem castigados. Continua a não haver alternativa ideal a Maxi, Amorim será sempre uma razoável adaptação e Luís Filipe será sempre... Luís Filipe. O mesmo se passa do lado esquerdo, se houver algum azar (cruzes, canhoto!) com Coentrão, o lugar será de César Peixoto. Medo...
As únicas alterações neste sector foram a entrada de Fábio Faria e a saída de Miguel Vítor, e aqui perdeu-se um jogador da casa e adaptado à realidade do Benfica em troca de um jovem que ainda tem que aprender o que é isto de jogar com uma águia ao pé do coração. Em termos de qualidade julgo que devem andar ela por ela, tendo o Fábio a vantagem de, segundo o Jesus, poder jogar a defesa esquerdo.
O Roderick acabou por ficar, mas se calhar nesta fase da carreira fazia-lhe melhor jogar com regularidade, nem que fosse na divisão inferior, do que ser a quinta opção do treinador. Digo eu...

Meio-campo: já se sabia que iríamos ficar sem Di María, portanto Gaitán estava assegurado há algum tempo. É notório que não têm as mesmas características, Di María é mais veloz, explosivo, individualista, típico de quem joga colado à linha; Gaitán é mais inteligente a definir os lances e dá mais primazia ao colectivo (tanto no ataque como na defesa), típico de quem prefere posições mais interiores. Se a adaptação de Gaitán ao estilo de jogo do Benfica for rápida, julgo que formará com Coentrão uma dupla melhor e mais equilibrada do que a da época passada.
Se a saída de Di María era inevitável, o que dizer da de Ramires? Desde o início que todos os indícios apontavam para que o negócio se desenrolasse como vimos, portanto pode dizer-se que quando o Benfica contratou Ramires já sabia que, se o jogador deslumbrasse, no final da época o iria perder. E julgo que em Dezembro já ninguém tinha dúvidas sobre a valia do jogador, portanto era imperativo colmatar essa futura lacuna. Era, digo bem, porque não foi. Erro crasso. Como já escrevi várias vezes neste blog, na minha opinião Ramires foi o jogador mais importante da época passada. O brasileiro era a peça-chave da transição ataque-defesa (acho que tem de se pagar qualquer coisa ao Freitas Lobo quando se usa esta expressão, não é?) do Benfica, que permitia que o famoso rolo compressor massacrasse constantemente o adversário sem que a equipa ficasse demasiado exposta a contra-ataques. A velocidade e inteligência com que Ramires se juntava a Javi no centro ou fechava a lateral anulavam as hipóteses de êxito do adversário. No ataque, Ramires era uma espécie de segundo Saviola da equipa, não se dava muito por ele mas, de repente, lá estava ele ao segundo poste a facturar. É óbvio que jogadores como este são raros, e a maior parte deles já estão em equipas inacessíveis para os cofres Benfica, mas isso não implica que não se fosse buscar alguém com características semelhantes. De certeza que não iria ter a qualidade do Ramires, mas pelos menos desempenhava esse papel. Nos jogos contra os Portimonenses e Olhanenses desta vida pode não se notar muito a falta de um jogador deste tipo, mas contra equipas do nosso campeonato um pouco melhores e, principalmente, na Champions a coisa pia mais fino. Há quem diga que o Amorim pode desempenhar perfeitamente essas funções, mas eu discordo completamente. O Ruben é o típico jogador que qualquer plantel de uma grande equipa deve ter, alguém que cumpre quando é chamado, que não tem a mania que é vedeta, que não amua por ficar no banco e que é adepto do clube desde criança. Mas, não sei porquê, ainda não o vejo como titularíssimo do Benfica.
Apesar de tudo isto que escrevi, parece que o jogador que, no papel, vai ocupar o lugar do Ramires é o Salvio (até a camisola é a mesma), embora na prática não vá ser assim. O argentino é um jogador tremendamente ofensivo e palpita-me que vai deixar o Javi e o Maxi muitas vezes em apuros.
Quanto aos restantes, apesar daquela ameaça de Airton no início da época, Javi mantém-se de pedra e cal na equipa e no último jogo, mesmo em inferioridade numérica, já tivemos um cheirinho da sua imponência a varrer o meio-campo. Airton consolidou a sua presença no plantel e oferece garantias caso Javi não possa jogar.
O nosso Pablito parece estar em melhores condições físicas mas de certeza que não vai aguentar o ritmo campeonato/Champions de quatro em quatro dias, portanto é bom que o Carlos Martins esteja sempre apto para ser titular. Se bem que aqui nesta posição de playmaker não me agrada mesmo nada ter dois jogadores cuja resistência física não é das melhores e que são sempre muito acossados por lesões. Seria importante haver uma terceira opção um pouco mais válida, já que não me parece que Felipe Menezes já seja jogador para o Benfica. A menos que Gaitán possa ser desviado para o meio... Mas aí quem jogará na esquerda? Sobe Coentrão e entra Peixoto? Medo outra vez...

Ataque: nenhuma saída e o reforço Jara, que na teoria será o suplente natural de Saviola. Quando não houver Cardozo entra Kardec (gosto deste miúdo!). Weldon terá menos hipóteses de ser herói como aconteceu na época passada e Nuno Gomes mantém a importância no balneário mas diminui a do relvado. Mantorras julgo que só contará para ele próprio.


Conclusão: face às entradas e saídas, e dado que a baliza é uma posição muito específica e importantíssima numa equipa e que não há ninguém que faça o que Ramires fazia, diria que estamos um pouco mais fracos. Mas, ainda assim, com qualidade mais do que suficiente para recuperar este atraso inicial, repetir a festa no Marquês e fazer uma boa campanha na Champions. Queria pedir aos responsáveis do Benfica para olharem para a Taça de Portugal com outros olhos, e não com o desprezo a que esta competição foi votada nos últimos anos. Julgo que os benfiquistas já têm saudade da febrada nas imediações do Jamor... Quanto à Taça da Liga, o objectivo deverá ser apenas e só rodar a equipa e descansar os titulares. Esta prova é de tal forma desinteressante que no ano passado jogámos com os suplentes e espetámos quatro numa loja de azulejos na meia-final e mais três secos na final diante de um gang de caceteiros da Ribeira.

Carreeeeega, rumo ao bicampeonato!

2 comentários:

Anónimo disse...

Excelente análise. Concordo a 98%.

Só não acho que o Ramires tenha sido o jogador mais importante da temporada passada. Foi dos mais importantes sim mas de um colectivo que se compunha com David Luiz, Di Maria, Cardozo e Javi Garcia.

Resumindo, o que funcionava era o trabalho em equipa que vai ter que ser muito mais trabalhado este ano, e já vai tarde esse trabalho.

Mas acredito, tal como tu, que temos condições para revalidar o título e, no mínimo, chegar aos 8avos da Champions.

MAGALHÃES-SAD-SLB disse...

Muito bem Éter, sublinho a parte "Mas, ainda assim, com qualidade mais do que suficiente para recuperar este atraso inicial, repetir a festa no Marquês e fazer uma boa campanha na Champions." assim como a referência à Taça de Portugal, é que já tenho saudades de ir ao Jamor!!

Glorioso abraço.

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