Simples

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

O jogo do Otelul é muito simples: chutam para a frente e tentam ganhar as segundas bolas, Wesley, ex-Leixões e actualmente no Vaslui.

O futebol descrito por quem anda lá dentro é tão simples... E sabe bem ler isto em alternativa a um qualquer "a equipa do Otelul assenta os seus princípios de jogo num bloco extremamente baixo, com uma basculação eficiente, bombeando o esférico para a área contrária mal adquirem a posse de bola, com um pivô colocado entre os centrais adversários para ganhar os duelos aéreos e servir da melhor forma os companheiros que se posicionam em seu redor".

Eu sei que a vida está difícil e que o futebol também que dar de comer a pseudo-intelectuais que gostam de utilizar palavras caras para tentarem dar a ideia a quem os ouve ou lê de que realmente dominam o tema como ninguém, que o futebol é tão ou mais complicado do que Física Quântica ou Engenharia Molecular, e que para o comum mortal compreender o que se passa no relvado tem sempre que estar atento aos seus doutos ensinamentos. E depois há o outro lado da moeda, o espectador que, numa forma de ser muito portuguesa, interioriza humildemente que não percebe nada de futebol e que realmente aquela gente sábia é que sabe da poda e o melhor que ele tem a fazer é ouvi-los e lê-los bem caladinho no seu canto e abster-se de se pronunciar, sob o risco de outra pessoa lhe dizer "'Tá calado que tu não percebes nada disto".

As discussões acaloradas entre amigos no café ou ao frio no meio da rua praticamente desapareceram e deram origem ao "Quero ver se chego depressa a casa para ver o programa X", "Mas o não sei quantos escreveu ontem no jornal que tal e coiso" ou "aquele gajo do blog não sei quê disse renhinhi renhonhó". Quase parece mal ter ideias próprias sobre o que aconteceu em 90 minutos de um qualquer jogo de futebol e ai de quem tenha opinião contrária aos gurus da imprensa, da televisão e dos blogs. Leva logo com o tal "tu não percebes nada disto" que até anda de lado e se refila muito ainda corre o risco de ser excluído da lista de amigos do Facebook.

Eu não gosto que me expliquem futebol de uma forma científica, tal como não gosto que me façam o mesmo com música, por exemplo. Vejo um jogo e ouço música e o que retiro daí é um problema meu, ninguém tem nada a ver com isso. Gosto de procurar outras opiniões, mas só gosto daquelas que são dadas sem pretensiosismo e não suporto as que tentam converter-me ou as que tentam diminuir a minha. Porque não há o certo e o errado. Há a opinião. Há os que preferem Messi e os que preferem Ronaldo e nenhum destes grupos é imbecil por não pensar o mesmo que o outro nem ninguém tem o direito de os fazer mudar de opinião só porque sim. Não há ciência. Há eu quase ter um ataque cardíaco com um golo falhado ou, regressando novamente ao exemplo da música, chorar como uma criança com Beethoven. E não há palavras de ninguém que me consigam fazer reviver o que senti naquele preciso momento.

Aqui há uns vinte anos começaram a aparecer na comunicação social as primeiras tentativas de tirar ao futebol o carácter marcadamente popular e acessível e lembro-me de que toda a gente se ria imenso desses tais pseudo-intelectuais. Hoje são eles que se riem de nós.

5 comentários:

JS disse...

Éter,

Mas não és obrigado a ler ou tentar compreender. Agora, o futebol não é correr para a frente, hoje em dia é muito trabalhado.

Eu gosto de ler blogs mais que ouvir Luís Freitas Lobo, mas tem-se aceitar que compreendem mais o jogo que nós adeptos.

Eu gosto de ler para perceber um pouco mais a ciência deste jogo.

No entanto, há coisas que não se explicam pela táctica... senão o Benfica assinava com Jesus por 10 anos e estava o assunto arrumado. Encostar Capdevilla, ser casmurro na utilização de um modelo em vez de outro, subestimar equipas nacionais ou conseguir deitar abaixo um jogador num flash-interview vale tanto que ter treino táctico de bom nível.

E é nisso que o Carlos Daniel disse tudo quando tinha Luis Freitas Lobo como convidado e perguntaram por mail porque não era treinador de futebol. Ele antecipou-se e disse: «Não é certo que um excelente comentador desse um bom treinador».

Éter disse...

JS, lembro-me de ver um jogo de Portugal no Euro 2004 comentado pelo Mourinho e foi fantástico. Não precisou de frases muito elaboradas para explicar na perfeição o que estava a acontecer nem teve a arrogância de dar a entender que o futebol é uma coisa só para iluminados, que é o que muita gente que para aí anda faz. É só isso que me faz confusão.

Mr. Crowley disse...

O problema não está em quem percebe do assunto. São mesmo os intelectuais de algibeira que se põem a dizer banalidades em "machadês" para disfarçar a sua ignorância.

JS disse...

Sim, eu pensei que tinha referido essa parte, mas não.

O falar "mais bonito" ou não, é-me um bocado indiferente. É óbvio que tende a haver uma linguagem mais técnica do que o chuta para a frente.

Mas leio blogs como o Lateral Esquerdo e o Centro do Jogo que não utilizam palavreados caros para além do necessário.

Quanto ao Luis Freitas Lobo, ele acaba por perceber muito independentemente de falar caro ou não.

dezazucr disse...

e eu que até gostava do Gabriel Alves.

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