A velhice é um posto. Mas só em alguns casos

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Este fim-de-semana estive em Coimbra e fui à Casa do Benfica tratar de uns bilhetes. Reparei num papel na porta que informava que a Casa iria brevemente mudar de instalações. Naturalmente, quando entrei perguntei o motivo de tal mudança, já que a Casa se encontra naquele local há cerca de seis anos (talvez um pouco mais ou um pouco menos, não tenho a certeza). Informaram-me de que estava a haver problemas com uma licença para ter uma pequena esplanada e servir refeições, e que a Câmara Municipal já os tinha multado algumas vezes, tendo a última chegado aos 500 euros. Sendo que uma importante fonte de receitas de uma Casa do Benfica são as refeições servidas, é evidente que não iriam aguentar ali por muito mais tempo e, ainda por cima, com as multas a situação estava a ficar realmente insustentável.

Perguntei se não tinham tentado falar com a Câmara para resolver a situação. Tinham. A Câmara tinha-lhes comunicado que para a licença ficar regularizada teriam que ter a aprovação do condomínio do prédio onde a Casa se encontra. Mas não seria uma aprovação normal por maioria dos condóminos; teria que ser de 100%. A administração do condomínio convocou uma reunião e, num prédio com cerca de 40 apartamentos, duas pessoas recusaram. Ainda as tentaram demover durante a reunião, mas não cederam nem apresentaram uma explicação para tal. Não queriam, não queriam e não queriam. E assim a Casa do Benfica de Coimbra teve mesmo que procurar novo poiso, sendo que o novo local já tem as licenças todas que necessita para abrir portas.

Ora como antes de eu vir para Lisboa vivi precisamente naquele prédio em Coimbra, perguntei se me sabiam dizer quem eram os dois ilustres senhores responsáveis pela saída da Casa daquele local. Disseram-me que um deles é um senhor reformado que costuma passar muito tempo na garagem a fazer uns trabalhos em madeira e que o outro é um senhor muito forte (no fundo, uma maneira educada de dizer que é um gordalhão). O tipo que tem a mania que é marceneiro sei quem é, o gordalhão não tenho a certeza porque quando eu lá morava havia dois. Lamentei a situação, lá me deram os bilhetes e fui embora.

Passadas umas horas voltei a passar por ali e reparei que a porta que dá acesso às garagens estava aberta e lá estava o homem de volta das suas peças de madeira. Parei o carro e fui ter com ele. “Boa tarde, posso saber por que é que votou contra a licença da Casa do Benfica?” O homem ficou a olhar para mim com espanto e entretanto deve ter-me reconhecido porque respondeu “Tivesse ido à reunião”. “Por acaso gostava de ter ido mas, como deve saber, já não moro aqui há vários anos”, respondi. “Então se já não mora isto não lhe interessa”. “Interessa-me no sentido de perceber por que motivo o facto de uma Casa do Benfica servir refeições o incomoda assim tanto”. “Porque sim”. “Vai-me desculpar mas isso é resposta de criança”, disse eu. Seguiu-se um indignado monólogo mais ou menos longo sobre como a velhice é um posto e como a juventude não tem educação nem respeito pelos mais velhos, ao que eu retorqui “O respeito ganha-se com actos, não com idade. Mas ainda não me explicou por que votou contra”. Finalmente, o homem rebenta “Porque eu não quero cá Benficas no prédio”. Estava mesmo à espera de uma destas. “Muito bem, está no seu direito. Mas olhe uma coisa, sabe que isso que o senhor faz na garagem é ilegal, não sabe? Uma garagem de um prédio não pode ser utilizada como oficina. É certo que isso não incomoda ninguém, mas já viu se alguma pessoa mesquinha que não faça nada da vida fosse fazer queixa de si e depois levasse uma multa da Câmara?”

Agora falta o gordalhão.

9 comentários:

Marciano disse...

Um sarrafo pelas costas abaixo no carpinteiro era o melhor fim.
Ainda não houve um local que se possa dizer ideal em Coimbra para uma Casa a sério. Na Fernão Magalhães era uma salita, na Rua do Brasil a mesma coisa, ali não a conhecendo, acho que o lugar não seria o melhor.

Valco disse...

Eu conheço a situação. Sou frequentador da Casa do Benfica de Coimbra. Ali, com a outra sala disponível até ao final do ano passado, o espaço era enorme. Mas realmente a mesquinhez e tacanhice ainda são muito fortes nesta sociedade. Não conheço os ditos. Mas dizem-me que o novo espaço é bom, tem uma área enorme, embora não tenha estacionamento à porta, mas isso é o menos. Em breve estará disponível. Venham visitar...

Anónimo disse...

arrefinfa lhe caralho....ao gordo leva o a jantar a um bom restaurant, ofereçe lhe do bom e do melhor e na vinda embora pregalhe uma paulada pelas costas quando ele menos espera

Éter disse...

Na Fernão e na Rua do Brasil não era lá muito bom, de facto. Onde está actualmente o problema principal é o estacionamento. Disseram-me que agora vai passar algures para o Alto de S. João, junto à Estrada da Beira.

Anónimo disse...

Eu não sou nada dessas coisas, mas neste caso, porque se trata do Benfica, se fosse eu denunciava-o à Câmara. Por causa das coisas!

Mindfuck disse...

Pois bem eu já sabia da situação, e também perguntei ao senhor do balcão o porquê e percebi logo que era por ódio.
Pena, mas se dizes que vai para o alto de são joão então melhor, fica mais perto de minha casa, é da maneira que passo a frequentar ainda mais vezes.
Só tenho pena não tentarem perto do estádio, aí aposto que teriam maior afluência, ou por celas.

Revolta-me estas pessoas.

Conde de Vimioso disse...

Grande Eter. Essa foi a Transmontano, só faltou mandar-lhes uma espadeirada.

Frequentei a Casa de Coimbra há dez onze anos, não sei em que rua, sabia lá ir mas não tinha grandes instalações.

E eu visitava tantas por esse Portugal fora.

Anónimo disse...

O gordalhão podia ser o sr. João Gomes, presidente da casa, falecido ha pouco tempo

Fehér 29 disse...

Anónimo... Respeitinho...

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