Premissa 1: Embora seja completamente descabido considerar a filial de Braga um rival do Benfica, a verdade é que nos últimos anos, coincidentes com a presidência de António Salvador, esse clube transformou-se em algo de profundamente repugnante, fazendo uso de todo o tipo de esquemas, dentro e fora do relvado, para levar a água ao seu moinho. E, particularmente em relação ao Benfica, foi dotado de um anti-benfiquismo de tal forma animalesco que com certeza faz corar muito portista. A filial não é um rival mas sim um inimigo, palavra que nem sequer deveria fazer parte do vocabulário desportivo.
Premissa 2: Nuno Gomes não me diz muito enquanto jogador. Teve três primeiras épocas de grande nível no Benfica, depois saiu para Itália e quando regressou foi mau de mais para ser verdade. Nunca percebi como é que num clube que luta para ser campeão havia um avançado com lugar cativo no onze inicial que marcava 7, 8, ou 9 nove golos por época, enquanto que do outro lado da barricada víamos Bennis, Liedsons, Lisandros e até alguns Farys, Meyongs e Nenés desta vida andarem na casa dos 20 golos. Não será com certeza culpa dele, se calhar foi o homem certo na altura errada, mas para mim o Nuno Gomes é a imagem de um Benfica perdedor, murcho, sem estofo nem exigência. Quem viu jogar homens com o killer instinct do Rui Águas, do César Brito, do Magnusson, do João Pinto, do Isaías, do Nené, etc, e depois leva com o Nuno Gomes durante 12 anos... Custa um bocado a aceitar, caramba! No entanto, compreendo que a malta que anda agora na casa dos vinte anos considere o Nuno Gomes um avançado espectacular da História do Benfica. Não têm culpa de, enquanto cresciam, terem sido brindados com Pringles, Totes, Akwás, Pepas, Sokotas e outros rapazes deste calibre. Tiveram um cheirinho do que é um avançado com o Van Hooijdonk e o resto é basicamente Nuno Gomes. Percebe-se, portanto. Felizmente agora há Cardozo para mostrar como deve ser a média de golos de um avançado que joga numa equipa de topo, embora o Cardozo não caia nas boas graças de todos os adeptos porque não tem uma carinha laroca e não bate com a mão no emblema de cada vez que mete a bola lá dentro.
Depois vem a parte de o Nuno Gomes ser um símbolo do Benfica. Não sou nada dado a simbolismos atribuídos a pessoas, mas para mim o símbolo vivo do Benfica dá pelo nome de Mário Coluna, que personifica tudo aquilo que é este clube e muito mais. De cada vez que vejo o senhor Coluna falar sobre o Benfica arrepio-me todo, o que nem Eusébio me consegue fazer. Depois temos outro símbolo humano, que se chama Cosme Damião, ou como eu gosto carinhosamente de o chamar: Pai. Colocar o Nuno Gomes sequer perto deste patamar de simbolismo é confrangedor e até cruel para o próprio jogador.
E é então com base nisto que desejo ao Nuno Gomes tanta veia goleadora na sua nova aventura como aquela que ele demonstrou nas últimas nove épocas de águia ao peito. Quanto à parte do benfiquismo do Nuno Gomes, só posso dizer que me faz alguma confusão como é que alguém que aparentemente sente tanto o Benfica consegue ir defender as cores de quem tanto ódio nos tem e recebe os nossos jogadores e adeptos com pedras, bolas de golfe, insultos brejeiros, armadilhas em túneis, agressões, etc, etc, etc. Não bate certo e nem a conversa do profissionalismo se enquadra neste contexto tão específico. Faz-me confusão, repito, mas não me deixa indignado ou sequer levemente aborrecido. O Nuno Gomes nunca despertou em mim grande paixão, portanto agora também não despertará grande raiva.
Eu ficava era lixado se o Rui Costa agora resolvesse ir para a SAD da filial durante um ou dois anos e depois regressasse como se nada fosse. Isso sim, seria grave.
Ai, porque ficando em Portugal tenho mais hipóteses de ir ao Europeu. Tem juízo, Nuno, que já tens idade para isso.