Rui Costa facilitou a execução deste post com a entrevista que recentemente deu. Nela foram visíveis alguns dos aspectos-chave onde a sua intervenção se faz notar e outros onde, detendo conhecimento, não é visível intervenção relevante.
O seu contexto de inserção dentro do clube é talvez único. Rui tem conhecimento real dos últimos 25 anos do clube, por os ter vivido directamente ou acompanhado de perto. Tem (parece que já teve mais nos últimos 2 anos que agora, mas ainda tem) o ouvido do Presidente disponível para abordar assuntos do clube, reputação no exterior e, por último mas talvez o mais relevante, um amor ao clube sem limites. É um crime não aproveitar o Maestro para ajudar a fazer um SLB melhor.
Todavia, é visível um problema actual. O perfil de Rui Costa é diferente do de Luis Filipe Vieira e de Jorge Jesus. Esta situação tem gerado decrescente protagonismo desde o primeiro ano de ligação, onde o Maestro foi responsabilizado pela infeliz aposta em Quique (LFV sacudiu a “água do capote” também nessa ocasião). Daí para cá, Rui tem tido menos visibilidade, menos intervenção, mas o seu papel é e pode ser ainda muito relevante na nossa estrutura.
Rui Costa não é propriamente um factor de inibição de desempenho. É sobretudo um elemento que pode potenciar o nosso sucesso. Como?
Validando talentos a contratar. A experiência é uma mais-valia, mas a grande certeza de que Rui Costa deve ser aproveitado nesta componente é o facto de, ele próprio, ter sido um talento enorme. Olhando para eles, falando com eles, obtendo informação deles, poderemos ter nele uma grande ajuda para diminuir o risco de falhar nesta componente.
Enquadrando talentos contratados. Como exposto no ponto anterior, o percurso de Rui Costa fez com que vivenciasse também esta questão. Também ele sentiu dificuldade na entrada no plantel dos seniores, também passou pelo empréstimo, também passou pelo enquadramento até à afirmação na equipa principal do nosso clube. Excelentes os insights que deu na reunião em relação a esta temática, onde ficou provado que pode dar valiosos contributos aos nossos jovens.
Gerando/fortalecendo relações internacionais. A reputação exterior do homem é enorme e vai manter-se pelo menos nos próximos 10 anos. Esta reputação poderá contribuir para estreitar as relações com os maiores clubes europeus, reforçando a partilha de conhecimento, oportunidades e troca/venda de jogadores.
Defendendo o grupo / equipa de futebol. Demorou 2/3 dias para surgirem as primeiras palavras de protecção a Javi no caso da semana passada, proferidas pelo presidente num contexto desadequado. Até o presidente do zbording falou do assunto antes do SLB. Rui Costa deveria ter a responsabilidade/possibilidade de assumir esta questão, matando o assunto de imediato e resguardando o presidente de um assunto “não presidencial”.
Representar o SLB. Quem melhor que um atleta reputadíssimo e de comprovada qualidade técnica e humana para dar a cara pelo clube, em cerimónias, sorteios ou outras ocasiões onde o SLB necessite de estar.
Complementar/ser a extensão o Presidente. A primeira valência atribuída aquando da despedida dos relvados, que paulatinamente tem sido cada vez menos visível. O Presidente tem responsabilidades e áreas de intervenção que tem de delegar e Rui Costa é o homem certo para as assumir. Um dos erros na gestão de LFV tem sido este, em vez de delegar nos competentes, assume a liderança em assuntos que não domina, falhando por inabilidade, incompetência ou timing.
Influenciar consagrados. Pablo Aimar. Deveremos estar para sempre gratos por isto. E como este poderão vir mais, persuadidos pelo Maestro para o desafio desportivo do nosso clube e pela paixão com que Rui Costa fala dele. Uma mais-valia que muito poucos no mundo poderão dar a um clube.
Estabelecer parcerias internas. Se no exterior o prestígio é inequívoco, também internamente Rui Costa pode trabalhar muito e bem sobre a vertente institucional, desenvolvendo parcerias dentro da primeira e segunda liga e com instituições do futebol nacional – colocar jogadores, melhorar relação, diminuir influência do sistema. Há muito que pode e deve ser feito.
Parte da blogosfera benfiquista defende que Rui Costa já se devia ter demitido, pois está limitado nas funções e já várias vezes foi “desautorizado” ou “responsabilizado” por falhas da estrutura. Não compreendem como é que não saiu ainda do clube.
Rui Costa foi claro na entrevista. Sai quando deixar de ser útil, quando o mandarem embora. Porquê? Rui Costa está profundamente ligado ao clube que ama, ignorando o menor protagonismo que detém, a responsabilização excessiva pelos insucessos, os problemas de erros ou falhas nas contratações (por que é que pensam que é sempre Rui Costa que apresenta os talentos aquando da chegada…)
Como é que ele aguenta isto? É fácil de perceber. Se eu trabalhasse no SLB, seria preciso fazerem-me a vida negra, mas mesmo negra, para me afastar, porque era ali que queria estar. Engolia todos os sapos necessários em prol do clube. Se visse o clube prejudicado não me calaria, é certo, mas enquanto o visse dirigido no rumo certo, não vacilaria e manter-me-ia à disposição – a máxima seria “I serve at the pleasure of the President”.
Rui Costa mantém-se na Direcção, mesmo prejudicado pessoalmente, porque ama de mais o clube para se importar com isso. Está 7 dias por semana ao dispor do SLB e é feliz porque está perto dele e do que sempre gostou de fazer. É como se fosse um de nós lá dentro, porque o Rui é dos nossos. E se conseguir dar o contributo que pode, continuará a ser um tremendo activo.