Um conto de Natal... na Páscoa

domingo, 4 de abril de 2010

Mesquita e Salvadora eram um casal feliz. Viviam uma vida tranquila e abastada, e em Braga, o seu pequeno feudo, eram mais temidos do que respeitados. Mesquita era carinhoso com a sua esposa e cuidava para que nunca lhe faltasse nada, mas em Salvadora começava a germinar uma ambição desmedida, que o seu bondoso homem não conseguia saciar. Salvadora sabia que o seu marido era dono e senhor daquela região, mas no resto do reino o seu poder era ignorado. E o pior de tudo era que Mesquita, homem tacanho e de vistas curtas, não se importava muito com tal facto, o que irritava ainda mais a sua gananciosa mulher.

Cansada de tanta apatia, Salvadora decidiu passar ao ataque. Aproveitando uma visita de um poderoso clérigo do Porto ao seu marido, Salvadora decidiu confirmar se os rumores que diziam que o homem não resistia a um rabo de saia eram ou não verdadeiros. Durante o jantar trocou alguns olhares com o clérigo mesmo nas barbas do seu marido e à noite, quando todos dormiam, dirigiu-se ao quarto do homem. Abriu a porta e de imediato um odor nauseabundo penetrou-lhe bem fundo nas narinas; Salvadora cambaleou. Da Costa, o clérigo, levantou-se da cama num ápice e ajudou a mulher a sentar-se na cama. Salvadora estava branca como a cal e Da Costa, ciente do seu grave problema de flatulência, abriu as portadas das janelas de par em par e ofereceu-lhe um copo de água. Quando Salvadora pegou no copo as mãos de ambos tocaram-se e sentiram um arrepio. Ela, de nojo por causa do cheiro; ele, de frio por causa da janela aberta. Era amor.

Depois desse dia o clérigo passou a visitar Braga muito mais vezes e além disso também convidava frequentemente Mesquita e a sua esposa para o visitarem no Porto. No entanto, o impensável aconteceu e Salvadora ficou grávida. A mulher, assustada, procurou Da Costa para lhe dar a notícia. O poderoso homem ficou colérico e teve um potente ataque intestinal, algo a que Salvadora entretanto se habituara, e recusou assumir a paternidade do bebé que vinha a caminho: “Traz-me a criança apenas quando ela já for crescida, para já não tenho qualquer interesse nela.” Salvadora protestou mas sem sucesso. Irado, Da Costa deixou um último aviso: “E livra-te de alguma vez mencionares o meu nome.”

De regresso a Braga, Salvadora aguardou alguns dias para revelar ao seu marido que estava grávida. Mesquita, sem suspeitar de nada, ficou radiante e ofereceu uma grande festa aos habitantes do seu feudo. O primogénito vinha, enfim, a caminho.
Alguns meses depois nasceu a criança, era um rapaz! Infelizmente o rapazito sofria de uma estranha doença que nenhum médico conseguia curar: não parava de chorar. Todos os dias a paciência dos pais era levada ao limite e, por conselho de um padre amigo, numa tentativa de agradar a Deus, decidiram baptizar a criança com o nome Choramingas Paciência.

Conforme o costume da época, vieram pessoas de toda a parte entregar prendas à criança como forma de homenagem aos seus pais. O clérigo do Porto augurava um grande futuro à criança mas sabia que não cairia bem ir ele próprio, por isso decidiu enviar três emissários, não sem antes lhes dar o mesmo aviso que meses atrás tinha dado a Salvadora: nunca mencionarem o seu nome.

O primeiro emissário, Belchior Proença, acercou-se do petiz e ofereceu-lhe as suas insígnias. Choramingas brincou com elas durante uns instantes mas depressa regressou a uma berraria sem fim.
O segundo emissário, Gaspar Soares Dias, presenteou o bebé com três bonitos penáltis e quatro esplendorosos cartões vermelhos. O pequenito Choramingas exultou com as ofertas e, pela primeira vez na vida, sorriu. Mesquita e Salvadora ficaram estupefactos mas profundamente aliviados; o filho tinha, por fim, parado de gritar.

O dia chegava ao fim e os pais, animados com as melhoras de Choramingas, interrogavam-se se viria mais alguém com oferendas igualmente bonitas. Gaspar Soares Dias, que estava de saída, ouviu a conversa entre Mesquita e Salvadora e sossegou-os: “Não desesperem, o meu colega Baltasar Elmano foi à Figueira da Foz e vai tentar trazer uma prenda ainda melhor do que as nossas.”

5 comentários:

Anónimo disse...

Mas, o que Baltasar Elmano não sabia era que na Figueira da Foz existia uma Força Gloriosa que o faria falhar na aquisição dessa prenda! Baltasar Elmano, impotente, apesar dos melhores esforços, voltou de mãos vazias e Choramingas iria ter uma recaída da qual, ainda nos dias de hoje, não teve melhorias.

Éter disse...

Anónimo, eu ia acabar o conto amanhã... Obrigadinho por teres contado o final. eheheh

MAGALHÃES-SAD-SLB disse...

Enorme Éter. grande conto!!! Aguardo pelo final da História.

Saudações Gloriosas.
RF
http://magalhaes-sad-slb.blogs.sapo.pt/

Unknown disse...

Fabuloso.

Anónimo disse...

Abrenúncio, te renego anti-cristo, ou anti-jesus que vem a dar no mesmo, contos destes nem a brincar, que a brincar a brincar é que o macaco coisou a mãe...

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