Vertigem é para os fracos

terça-feira, 10 de abril de 2012

Já que em relação às arbitragens não temos qualquer capacidade de impor respeito e ainda por cima apoiámos, apoiamos e, muito provavelmente, apoiaremos ad nauseam Fernando Gomes e Vítor Pereira (e aqui alguns dirão: "apoiamos porque se não o fizermos é muito pior". Pior do que isto? Por favor...) devemos concentrar-nos naquilo que podemos controlar.

Recuemos à jornada 17, em final de Janeiro, onde fizemos um jogo muito fraquinho em Santa Maria da Feira, mas lá acabámos por garantir os três pontos. Seguiu-se o Nacional, que foi trucidado na Luz. A seguir veio a sempre difícil deslocação a Guimarães, onde Jesus decidiu dar azo à sua loucura e jogar com Matic perdido no meio-campo enquanto forçava um Rodrigo ainda com a entrada de Bruno Alves bem fresca na memória a 90 minutos pavorosos, algo que resultou numa derrota. Nova deslocação, desta vez a Coimbra, num daqueles jogos irritantes em que a bola simplesmente não quer entrar mas que Jesus emperra ainda mais retirando Aimar do campo com 20 minutos ainda para jogar; as ideias do Benfica nesse jogo acabaram aí. Chegou por fim o duelo que poderia resolver as contas do título e, depois de o Benfica ter conseguido dar a volta ao marcador, Jesus retira Aimar e coloca Rodrigo, destruindo o meio-campo e entregando o controlo do jogo ao foculporto. Seguiu-se viagem a Paços de Ferreira e mais um jogo fraco, onde o Paços só não acabou com o jogo por manifesta falta de competência dos seus avançados; mais três pontos conquistados com sorte. De seguida, recepção ao Beira-Mar, que se traduziu num calmo passeio durante 90 minutos. Depois, rumo a Olhão, num jogo em que Aimar é expulso aos 62 minutos mas que até então o Benfica nada tinha feito para vencer; a única oportunidade clara de golo surgiu nos descontos, por intermédio de Saviola. Depois, novo jogo importantíssimo, desta vez contra o Braga, que dispôs de vários contra-ataques para abrir o marcador e deixou a nu as fragilidades do Benfica no centro do terreno. Ontem foi o zbordin, que conseguiu o que o Braga tentou.

Olhando para todos estes jogos, recordamos facilmente vários erros de arbitragem. Penso que isto é claro e que não admite grande discussão. Mas penso também que se consegue perceber que a equipa do Benfica vive permanentemente no limiar do risco, principalmente pela forma como o meio-campo está construído, e que o treinador, apesar de não o admitir publicamente, desvaloriza claramente os opositores. Julgo que é evidente que Jesus joga muito com o facto de no campeonato português escassearem os bons finalizadores. As equipas são, regra geral, bem organizadas do ponto de vista defensivo, sabem sair em contra-ataques rápidos mas pecam imenso na altura de rematar à baliza; o campeonato português é assim. Ora isto aliado à ideia de o Benfica marcar dois ou três golos em cada jogo é o espelho da táctica do Benfica: uma vertigem louca pelo ataque que descura em demasia a defesa. Basta reparar que em todos os jogos do campeonato, exceptuando a primeira jornada em Barcelos, só o foculporto conseguiu marcar mais do que um golo ao Benfica. O problema é que nesta recta final começam a faltar as pernas e as ideias e o Benfica não marcou golos em Guimarães, Coimbra, Olhão e Alvalade. Só aqui foram 10 pontos ao ar. Talvez com outro tipo de abordagem táctica e rotação do plantel os jogadores não chegassem a esta parte decisiva do campeonato todos rotos, algo que evidencia ainda mais o tal limiar de risco em que o Benfica joga. Em cada jogo, a equipa parece querer atravessar um precipício em cima de uma corda, ainda por cima a correr, quando se calhar convinha efectuar um reconhecimento do terreno em busca de um ponto de travessia mais acessível. Chegar ao outro lado em cima de uma simples corda tem um efeito espectacular, é verdade; demonstra audácia e uma total ausência de medo. Por outro lado, procurar outro caminho demora mais tempo e seguramente não é tão viril, mas se calhar não se acaba com os miolos esborrachados lá em baixo tanta vez.

7 comentários:

Joao disse...

Acho que o erro de Jesus (se calhar a culpa aqui também é da equipa dirigente) passou pelas dispensas de Carlos Martins, Airton e Ruben Amorim.

Avisar o Capedvilla no início de época que o lugar de defesa esquerdo era do Emerson também foi uma boa maneira de criar um grande problema à equipa!

Abraço

jzz disse...

Concordo genericamente com o que escreves, para mim o JJ está a perder qualidades e a revelar novos defeitos, mas o que é certo é que bastava um empate em guimarães (penalty sobre o Rodrigo), vitória em Coimbra (2 penaltys), empate com os corruptos e empate ontem com os submissos, para estarmos agora na frente com 3 pontos de vantagem.

Momentos maus todas as equipas têm, até o Super-Barcelona. Mas se quando eles surgem aparece também a "mão invisível", não há equipa que aguente.

Se eu fiquei totalmente desmoralizado quando vi o penalty aos 40 segundos roubado e o ar de satisfação com que o Arturinho amarelou o Luisão depois da festinha no pescoço, imagino o que sentiram os jogadores.

Pior fiquei, e imagino que os jogadores também, quando vejo o meu treinador a despejar avançados dentro de campo quando o nosso mal estava no meio campo.

Dito isto, e com muita pena minha, acho que o Jorge Jesus não deve continuar no Benfica na próxima temporada.

Luis Rosario disse...

Não posso deixar de salientar que escreveste 2 vezes "no limite do risco"...

Onde é que foste buscar essa expressão? :)

E os abutres que levantaram todos voo hoje ein?

Helenikon disse...

Para lá das análises tácticas näo deixei de reparar, que desde fechado o mercado de Inverno miraculosamente nunca mais jogámos nada. A saga comecou mesmo a partir do primeiro jogo depois de fechado o mercado de Inverno. Gaitán nunca mais se viu e o belo futebol apoiado da primeira volta desapareceu.

DMC disse...

Infelizmente sou levado a concorda na integra contigo caro Éter. Temos muita queixa de arbitragem como também temos muita falta de competência. Agora aqui impõem-se dois pontos:

1) Este campeonato era ganho contra os14jogadores em campo(+os croquetes,meninas da vida,ideias absurdas de jesus,jogadores que incrivelmente não jogam contra o clube que é dono do respectivo passe, etc, etc) tivesse o Jesus mais respeito e medo de perder os jogos (sim, não me parece que ele tenha medo de perder os jogos senão preparava-se melhor). Teria assim montada estratégia para ultrapassar dificuldades.

2) Tivesse este campeonato (como todos os outros dos últimos 10anos que são os que me lembro bem) alguma justiça e vergonha na cara e todas as equipas em baixo de forma/mal preparadas/má sorte iriam perder pontos em alguns encontros. Com essa verdade, os pontos que temos actualmente seriam suficientes para sermos campeões. Caso considerem que não cheguem, acrescentem alguns dos erros grosseiros de que fomos invariavelmente alvos e estamos lideres destacados e com tempo para preparar champions e outros que tais.

Em suma, tivessemos nós cumprido um dos pontos anteriores e seríamos campeões. A questão é que nenhum dos dois aconteceu. O segundo vem há demasiado tempo e nada se faz contra ele. O primeiro é falha nossa e não se pode falhar.

então o que fazer?

Quanto a mim, demite-se o... Vieira. Estou cansado dele, já deu o que tinha a dar e já nos tirou mais do que deviamos ter permitido. Mantém-se o Jesus. Ele é bom treinador, e não há ninguem que queira ver no lugar dele (com excepção de um senhor no qual acredito mas que, por acreditar nele, não o quero ver no benfica com vieira como presidente pois será uma forma deste se manter mais tempo sem resolver os problemas da sua alçada.
Solução?Metam o Vieira a andar, façam uma equipa de trabalho e tragam alguém de valor. Perdoem-me por querer o Rui, o Rui ostracizado, que acredita que faz mais no Benfica do que fora dele (não te julgo Rui, ainda que por vezes a porta pareça ser aos benfiquistas o melhor caminho a tomares). O Rui a nosso presidente, o Jesus a nosso lider (posso pedir para o carraça saltar borda fora?) e ver alguem na comunicação como o Ricardo A Pereira (sim ele é humorista, mas vejo nele alguem que iria rodear duma equipa de qualidade, equipa que procuraria saber destes blogues, das ideias que tantas vezes sao lançadas, que iria defender o clube como um de nós, com humor (que é o que precisamos nesta palhaçada) e com seriedade). Esta seria a minha equipa. Este seria o meu Benfica. Sem tractores de jogadores. E com alguém a lembrar ao Jesus que ele não é Deus, ele trabalha para algo maior do que ele.

Que vos parece?
Cumps
DMC

deusébio disse...

Éter,

Como de costume mais uma bela postadela, em que concordo praticamente com tudo.
Especialmente na parte em que identificas, muito bem, que faz falta quem, dentro da estrutura, dê um murro na mesa e não deixe o jj à vara larga...
Durante esta época (quando estávamos com 5 pts de vantagem), cheguei a ter a opinião de que este devia ser o último ano de jesus no nosso Glorioso.
Ou seja Devolveu-nos o jogar à Benfica, o rolo compressor, a relevância europeia e estava chegada a hora de contratarmos um técnico de outro calibre. Mais pragmático ou cínico como preferires.
Porém estas últimas jornadas(desde o jogo com o nacional em Casa, em que fomos roubadinhos até mais não) fizeram-me mudar de opinião...
Enquanto se mantiver o status quo na liga e na federação o Benfica só consegue ser campeão com o jj ou com um treinador do mesmo género( por exemplo o Co Adriaanse que cilindrou a maior parte das equipas da liga e, salvo erro, não ganhou nenhum jogo a 1 grande).
Tenho 34 anos, e o melhor Benfica que vi jogar foi o da 1ª época do jj.Praticámos do melhor futebol que se via por essa europa, e mesmo assim, só nos deixaram ser campeões na última jornada... Para sermos campeões não nos basta ser melhor que os outros(nesse caso, éramos campeões este ano...) temos de ser MUITO, mas MUITO MELHORES que os outros...
nos 32 campeonatos que já conquistámos, provavelmente só o do Trap, é que foi ganho com base no pragmatismo e nas circunstâncias que todos conhecemos...

O que achas?

Um abraço

Éter disse...

DMC, o Vieira só deixará o Benfica quando ele assim o entender. É triste mas é esta a realidade.

DMC e deusébio, quanto ao Jesus, o Benfica não é o Chelsea para despedir treinadores com indemnizações milionárias. 7 milhões de euros é muito euro para encarar isto com leviandade. Tem que se pesar muito bem os prós e os contras do despedimento e da manutenção. Mas se o Jesus ficar gostava que alguém lhe desse dois berros e que o fizessem ver que ele não é mais importante do que o Benfica, e que o clube não pode sair prejudicado por causa de birras, teimosias e outras questões pessoais do treinador.

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